domingo, 18 de março de 2018

Badajoz não sabe o que fazer aos patos

Por favor leia a reportagem seguinte, que é importante para ajudar a entender a crise tomarense. No texto de amanhã ficará a perceber porquê. Obrigado.

Manuel Viejo - EL PAIS online

"Em apenas três anos, 40 patos passaram a 500, e constituem agora um grave problema para os habitantes e para a Câmara"

Una treintena de gansos atraviesa un camino del parque del Guadiana.

"Nem a Câmara, nem o governo regional da Estremadura, nem os biólogos, nem tão pouco os habitantes da zona. Ninguém sabe de onde vieram os patos. Há duas teorias. Segundo a mais corrente, há um outro parque a cem metros, o Jardim Castelar, no qual vivem 60 patos em liberdade, controlados pelos serviços municipais. Daí podem talvez ter-se escapado alguns. A outra teoria aponta para alguns residentes, que teriam patos como aves de companhia e a dada altura resolveram soltá-los.
"Construímos este parque para os cidadãos e não para os patos", declara o alcaide (presidente da Câmara) Francisco Fragoso, do PP, que se inclina mais para a hipótese do abandono por alguns moradores de aves de companhia.
"No próximo verão podem chegar aos mil e criar um problema de saúde pública para os 150 mil habitantes da cidade", avisa José Marin, presidente da ordem dos veterinários de Badajoz, que acrescenta: "Se continuarem a multiplicar-se, podem transmitir a gripe aviária ou as salmonelas."
Marcelino Cardalliquet, delegado da Sociedade espanhola de ornitologia na Estremadura, opina que se trata de um problema sério, apesar de parecer uma brincadeira: "Como não têm predadores por perto, estão a transformar-se numa ameaça para centenas de aves."
Os patos gansos deslocam-se geralmente em grandes bandos. No caso presente estão repartidos em bandos de 30 a 40 aves, em várias zonas do parque público. As patas têm uma postura anual média de 4 a 6 ovos, que levam 27 a 28 dias a chocar. Por isso se multiplicam com tanta facilidade. Em comparação com outras aves de capoeira, vivem mais anos, aprendem mais depressa e podem tornar-se agressivos.

Un ganso entra en la cocina del bar del parque.


José António, de 52 anos, que costuma vir correr todos os dias no parque, declarou que os gansos nunca o incomodaram. Mais adiante, Angel, de 34 anos, que brincava com a sua filha Eva,  referiu que "Está tudo cheio de fezes. Acho que não devem levá-los daqui, porque as crianças ficam encantadas, mas há que reduzi-los bastante." Jana, de 26 anos, que trabalha como empregada de mesa num dos cafés do parque disse que "Metem-se na cozinha, sobem às mesas, incomodam os clientes, enchem tudo de merda. Tem de se fazer alguma coisa quanto antes."
Perante tanta polémica, Pablo Ramos, coordenador de Ecologistas Estremadura, propõe que sejam doados para explorações agrícolas da região que os aceitem, enquanto Artur Lopez, biólogo e técnico da Assembleia municipal de Badajoz, é de opinião que devem ser abatidos. "Pode ser impopular, mas mesmo assim devem matá-los. Eu também sou defensor dos animais, mas trata--se de uma espécie invasora."
A hipótese do abate está em cima da mesa, em conjunto com a da captura e posterior deportação das aves. A possibilidade de recorrer a contraceptivos já foi afastada, porque poderia afectar outras espécies. A adopção por residentes da zona também já foi posta de parte. "É um problema resultante do hábito de oferecer patinhos. Agora é capturá-los quanto antes", declarou José Martinez, presidente da Confederação hidrográfica do Guadiana. Tanto a Confederação como o governo regional da Estremadura (PSOE) -que não considera que haja um problema porque não se trata de animais selvagens-, e a Câmara municipal, já se reuniram várias vezes, na busca de uma solução, mas até agora sem êxito.

Los gansos picotean el césped por un tramo del parque del Guadiana.

"Se não fizerem nada, cada vez vão ser mais", diz um trabalhador da JOCA, a empresa que assegura a limpeza e manutenção do parque. "Há toneladas de excrementos; andamos sempre a limpar e agora é a época da reprodução, de forma que daqui a pouco vão ser muitos mais."
O jornal Hoy publicou há dias que a cidade de Alicante, na costa mediterrânica, poderia acolher alguns patos, para instalar num campo de golfe. Don Benito e outras cidades da zona sul de Espanha também já manifestaram interesse. Há até uma empresa ecológica da região que estaria disposta a comprar os patos para os transformar em paté.
Entretanto a Câmara espera poder concluir em breve um acordo com o governo regional para começar com as capturas, de forma a reduzir o contingente de gansos. Enquanto isto, um bando de 36 patos encaminha-se lentamente para alguns restos, que Vitória, 40 anos, acaba de despejar na relva, apesar de ser proibido dar de comer aos patos. "Se o parque não é para eles, é para quem?", pergunta ela.
Os gansos comem lentamente, porém reproduzem-se rapidamente. É esse o problema."

Manuel Viejo, EL PAIS online, 17/03/2018, às 09H53
Tradução e adaptação de António Rebelo

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