domingo, 4 de março de 2018

A brincar ao turismo


A peça é do Cidade de Tomar, de sexta-feira passada. Além de chamada de capa, ocupa as páginas 5 e 6, que Tomar a dianteira ainda não teve o prazer de ler. Por isso, o que segue refere-se unicamente ao acima reproduzido, não se pretendendo ofender nem os promotores da iniciativa relatada, nem os jornalistas de Cidade de Tomar. Trata-se apenas de tentar pôr os pontos nos is e de chamar as coisas pelos nomes.
A ideia de colocar alunos do ensino secundário a ajudar visitantes, até nem é má em si. Pelo contrário. O problema é que devia ter sido enquadrada por profissionais credenciados de turismo e, tanto quanto se sabe, não foi. Daí resultou uma série de equívocos, dois dos quais constam do intitulado acima.
Antes de mais, não é verdade que os alunos tenham vivido uma experiência como guias turísticos. Guia de Turismo é uma profissão regulamentada, que exige formação superior prévia e tem o seu próprio sindicato, que atribui a respectiva carteira profissional, como sucede com os jornalistas, por exemplo. Dizer que os alunos viveram uma experiência como guias de turismo é por conseguinte um  manifesto abuso de linguagem. Se um ano destes os alunos forem atender e acompanhar alguns pacientes num hospital, decerto que ninguém ousará escrever depois que "viveram uma experiência como médicos".
Não tendo sido devidamente assessorados por profissionais, nem minimamente preparados para a actividade a desenvolver, os alunos protagonistas dela sacaram depois conclusões erradas. como testemunha a segunda afirmação acima reproduzida. Na verdade, se a função deles tivesse sido essa, mostrar que Tomar não se resume ao Convento, não passaria de abrir portas há muito abertas.
Na área do turismo, só os principiantes e os visitantes rascas é que ainda ignoravam e ignoram que Tomar não é só o Convento. Guias, motoristas, acompanhantes, recepcionistas, animadores, agentes de viagem, tour operadores, turistas, excursionistas e visitantes, todos conhecem bem os recursos de Tomar. Infelizmente também sabem que não há estruturas de acolhimento capazes, nem profissionais qualificados, nem horários convenientes, nem  uma entrada decente no Convento, nem vontade nem capacidade para suprir tais lacunas.
Limitam-se por isso os profissionais ao mínimo dos mínimos: visitam o Convento quando não pode deixar de ser, e fogem de Tomar o mais depressa possível. E os visitantes sabem disso. As más notícias correm depressa. Só não vê nem sabe quem não quer. Basta falar com os operacionais do sector. Ou com qualquer visitante com um Routard, um Michelin, um LonelyPlanet, um American Express, um Baedeker, ou um Trotamundos na mão. (São guias de viagem em suporte papel)
Sendo as coisas o que são, a dita actividade dos alunos terá sido vista, tanto pelos turistas quanto pelos profissionais, como mais uma evidência de que em Tomar se continua a brincar ao turismo, desta feita envolvendo alunos em tarefas para as quais não foram antes devidamente preparados, numa terra ainda sem profissionais qualificados e de boa reputação. Apesar de até termos no IPT uma licenciatura e um mestrado em gestão de turismo cultural. É estranho, mas é assim.
Todos concordarão certamente que só os médicos podem exercer medicina, havendo para isso também necessidade de bons hospitais, mas acham alguns docentes a leccionar em Tomar que qualquer cidadão, mesmo ainda adolescente, pode fazer de guia turístico, não havendo qualquer necessidade de adequada formação prévia, ou de estruturas de acolhimento dignas.
É por estas e por outras...

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