terça-feira, 3 de outubro de 2017

O drama tomarense e os pobres de espírito

Os pobres mais infelizes e difíceis são os pobres de espírito. Porque os outros vão pedindo e obtendo o mínimo vital. Já os primeiros nada pedem, porque se ignoram enquanto pobres. Julgam ter toda  a razão do mundo. A este problema junta-se um outro, igualmente importante, na área da política: ninguém é de facto responsável individual de uma decisão colectiva. Churchill disse-o, numa tirada que se tornou célebre - A democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os restantes. Noutros termos, ao votar, o eleitor ignora completamente o resultado final global do seu voto. O que faz da votação democrática um sistema imperfeito, porém até agora sem substituto melhor.
Regra geral, após uma consulta eleitoral, os eleitores vencidos raramente ou nunca admitem ter votado nesse candidato, nessa lista ou nessa opção derrotada. Inversamente, todos ou quase todos os votantes alardeiam a sua satisfação quando a sua escolha ganhou. Como aqueles milhares de adeptos dos clubes desportivos, que comemoram ruidosamente vitórias conseguidas nos relvados por apenas onze contra onze. Este comentário de um corajoso anónimo, que também pode ser uma corajosa, e pode ser confirmado aqui, é bem elucidativo e um claro sintoma da crónica maleita tomarense:


Trata-se objectivamente do comentário típico da pobreza de espírito, que se ignora e se julga um farol, susceptível de iluminar as nabantinas almas perdidas nas profundezas do erro. Vejamos, seguindo a ordem cronológica. "Muita gente vai ter que meter a viola no saco" porquê? A maioria absoluta de Anabela Freitas, filha do arranjinho com Pedro Marques, do desaparecimento dos IpT e da relativa inépcia do PSD, já resolveu algum problema? Que eu saiba, só um: a sucessão do actual mandato. Quanto ao resto: O rio Nabão já não tem algas? Há sanitários públicos em quantidade e qualidade? O Mouchão já voltou ao que  foi antes do 25 de Abril? Os autocarros com turistas já podem circular nos dois sentidos na estrada do Convento? Desapareceu o intenso e persistente cheiro a merda na zona da Avenida Nun'Álvares? Está resolvido o problema dos "museus da Levada"? Já há estacionamento suficiente junto ao Castelo e Convento de Cristo? Tomar já voltou a ter um parque de campismo dos melhores do país? Todo o concelho tem já uma moderna e eficaz rede de saneamento? Na cidade antiga, as redes de água e de esgotos já foram requalificadas na totalidade? O custo final da água dos SMAS já deixou de ser o mais elevado da zona e dos mais caros do país? O problema cigano já foi solucionado? A excessiva burocracia camarária já foi suprimida? Deixou de haver evidente arrogância da parte de numerosos funcionários superiores e de alguns eleitos? O êxodo da população já acabou, ou pelo menos afrouxou? A lista é tão longa que mais vale ficar por aqui. E face a isto tudo, uma alma anónima acha que alguns vão ter de meter a viola no saco? Ignora, na sua evidente pobreza de espírito, que tal constitui afinal, um apelo ao silêncio, mais próprio de ditaduras e de cemitérios?
Confirmando a sua indigência intelectual, a mesma alma caridosa refere "quem disse mal e denegriu", aconselhando a esses a paciência e o choro. Tomar a dianteira não consegue vislumbrar a quem se possa dirigir tal alvitre. Do que tem lido, concluiu que ninguém disse mal ou denegriu. Limitaram-se a tentar alertar, mostrando as coisas como elas são. Regra geral muito desagradáveis, lá isso é verdade. Mas quem tem calos, não se deve meter em apertos. Ninguém é obrigado a candidatar-se. Não há portanto razão para chorar, antes para continuar atento e actuante. Contra a arrogância, o convencimento, a auto-suficiência e a evidente falta de projectos. Porque, também na política, as vitórias imerecidas criam ilusões, que a todos acabam por prejudicar. Como lá mais para diante se verá. É por assim dizer inevitável.

10 comentários:

  1. Inteiramente de acordo.
    O povo decidiu, está decidido. Não significa que sempre com o critério mais justo. Mas não há como não respeitar os resultados - e os vencidos - e exigir aos eleitos o cumprimento sério e rigoroso dos seus mandatos.
    O PS coloriu de rosa este "território estreito e de pernas longas, mas sem cabeça", no dizer de um grande pensador português (Pinharanda Gomes). Que se cuide o PS na boa gestão da vida local, da prática dos seus eleitos. O PS precisa de se reorganizar, de implementar uma grande revolução cultural e democrática internamente. É o momento para o fazer, se não o fizer...
    Lamento, sinceramente, a não eleição do eng. Bruno Graça. É injusto. Um paradoxo. Decididamente, não cai no goto dos tomarenses - vá-se lá saber porquê.

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  3. Felizmente que o Senhor se enganou e o seu partido do coração acabou por vencer e bem.
    Mas há alguns aspectos a considerar:
    - A soma aritmética dos votos PS+Ipt em 2013 ficou 610 votos abaixo em 2017, mas teve o mesmo efeito no número de mandatos 3+1=4. "Transferiram-se" 2493 votos dos Ipt para o PS. Já na Assembleia Municipal essa soma aritmética de votos "rendeu" menos um vogal (7+4=11 e ficaram 10) e para a Junta Urbana também (5+2=7 e ficaram 6, em Paialvo ela deu vitória ao PS com maioria absoluta (3+1=4 e ficaram 5.
    Significa tal que os cepticos que afirmavam o descalabro do PS, por efeito da negativa ligação aos "traidores" do Ipt, não se verificou e o acordo acabou por ter bom efeito. A Anabela e o Hugo Costa foram bons estrategas ao lançarem a rede aos Ipt e dar lugares nas listas a alguns deles.
    Compreende-se agora e bem que certos setores não gostassem da ligação do Ps com os Ipt e tudo fizessem para ela não sortir efeito.
    O Psd queria ganhar e a Cdu manter-se na Câmara, fartaram-se de criticar e sublinhar contradições, suspeitas e o raio a sete.
    Só faltou ajudarem os Ipt a concorrer mais uma vez autónomos.
    - o PSd subiu 1.616 votos (muitos dos 601 "perdidos" pelo PS/Ipt e vários dos 279 perdidos pela CdU);
    - o BE subiu 609(alguns da CDU e até dos Ipt) e ficou na Assembleia Municipal e entrou para a Junta Urbana.
    - a CDu perdeu 279, perdeu o lugar na Câmara (injustamente, porque o Bruno fartou-se de trabalhar e fez boas coisas), perdeu a freguesia de Paialvo (uma perda previsivel, porque em 2013 tinha maioria relativa, teve de se amparar ao Ps e também porque a soma aritmética dos votos Ps+Ipt conduzia a tal resultado), subiu na freguesia de Carregueiros (mais um vogal).
    - os CDs foram irrelevante, porque continuaram a não eleger ninguém no Municipio e o PTP fez palhaçadas e disse que estava vivo.

    Agora aqueles que os votantes elegeram para os executivos têm de trabalhar para cumprir o(s) caderno(s) de encargos - como esse que o senhor escreve e tem escrito - da malta de Tomar e tirar esta terra da parvónia lançando-a para a frente à conquista do terreno e capital perdidos. E as assembleias têm de fiscalizar e dar no osso com força propondo soluções.
    E se todos fizermos força e exigirmos vai acontecer. Esperemos com confiança.

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  4. Estou de acordo consigo no essencial. Há porém dois aspectos em que divergimos. Um é sobre o caderno de encargos, que na verdade não existe. O que há é uma lista de boas intenções, de momento sem projecto, sem articulação, sem financiamento e até saem justificação cabal.
    A outra divergência versa sobre o PS ter ganho bem. Na minha pobre opinião, o PS Tomar limitou-se a manobrar e a ter asorte do seu lado. Há várias concelhos onde com percentagem superior a 40%
    não conseguiu mais que maioria relativa. Em OLiveira do Bairro (Aveiro), por exemplo, o CDS conseguiu 41,5% mas apenas elegeu 3 em 7. NO Crato (Portalegre) o PS só elegeu 2 em 5, apesar de ter obtido 43,06%. Nestas condições, ainda acha que em Tomar ganhou bem? Não lhe parece que foi um resultado algo injusto e sobretudo perigoso, por poder provocar o convencimento e a arrogância dos eleitos?

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    1. O caderno de encargos existe nas exigências que o senhor e muitos lúcidos cidadãos deste concelho fazem ao poder. E este tem de corresponder, no essencial, conforme as possibilidades e disponibilidades, mas tudo fazer para tirar Tomar da encruzilhada onde se encontra. Os partidos apresentaram os seus programas e, da articulação do programa do PS, com os dos outros (principalmente CDu e pSd) será feita a governação municipal. Anabela e a sua maioria terão de dar "corda aos sapatos" fazer um bom trabalho em prol da comunidade. Se cumprir vai voltar a ter a confiança dos eleitores. O senhor dr. preocupa-se com as percentagens de outros noutros concelhos e situações para concluir que o Ps não ganhou bem e que este se limitou a manobrar e a ter a sorte do seu lado. Se manobrar tiver sido integrar os Ipt no seu seio, então manobrou muito bem, porque o eleitorado compreendeu, aceitou e lhe garantiu a vitória. Já quanto a ter a sorte do seu lado, a verdade é que a sorte se procura e se constrói. O ps construiu-a e, perante, a fraca concorrência, aproveitou muito bem para se impor. Aduz o senhor dr. que o resultado foi injusto e perigoso. Injustiça foi feita ao Bruno que foi "entalado" pelo BE e pela má estratégia da sua campanha, já em relação ao psd foi mais que justo o triunfo. Quanto ao perigo ele advirá se não for feito um bom trabalho e se o ps ficar instalado à sombra dos resultados.
      Agora há que avançar para resolver os problemas do Município e proporcionar uma, cada vez melhor, qualidade de vida aos munícipes. Exige-se trabalho, honestidade e competência envolvendo as pessoas e as organizações aproveitando as sua ideias e justas reivindicações. Assim Tomar seguirá no caminho certo!

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  5. Que música tão bonita! Até me está a fugir o pé para a dança. Na minha idade,veja bem!

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  6. Que música tão bonita! Até me está a fugir o pé para a dança. Na minha idade,veja bem!

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  7. Aí está! O Professor Rebelo quer dançar e sabemos que tem par! Pois então, na secular NABANTINA tem a oportunidade de melhorar os seus conhecimentos na arte da dança com as aulas do Mestre Hélder. Como passa todos os dias por lá poderá informar-se do horário e depois começar a frequentar assiduamente as actividades. E, já agora, boa dança Professor Rebelo. A idade do senhor é realmente muito menos do que consta do seu BI. Avance sem medos!

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  8. Bela resposta, a fingir que eu escrevi em sentido próprio, quando afinal o fiz em sentido figurado. É pena.

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  9. Também foi comentado com humor e em sentido (quase) figurado. Mas o ilustríssimo Professor tem pouco sentido de humor quando lhe não agrada a conversa! É pena.

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