sábado, 10 de junho de 2017

Fico menos descansado

É costume dizer-se, após ter ouvido uma explicação apaziguadora, "Fico mais descansado!" Pois eu acabo de ouvir  aqui, na Rádio Hertz, as posições de Andreia Galvão, directora, e de Álvaro Barbosa, técnico superior, sobre os incidentes e outras anormalidades  no Convento de Cristo, relatados no recente Sexta às 9 da RTP 1, e fico menos descansado. Usando uma frase feita,  cantam bem  mas não me entoa.
Há trinta anos que as coisas não funcionam bem no Convento de Cristo, o que significa que não funcionam da melhor maneira possível para os visitantes, em relação às boas práticas naquela área da actividade humana, mas a senhora directora vem de novo com a estafada música para adormecer, desta vez alegando que está tudo controlado, que tem muito orgulho em dirigir aquela equipa,  e que está  em execução um plano estratégico. Imagine-se! Uma equipa! Um plano estratégico! Nunca antes constou tal coisa.
Os problemas do Convento são há muito conhecidos dos especialistas na área do turismo. Porque é disso que se trata. De turismo operacional. Entrada vergonhosa, horários curtos, bilhética muito deficiente, pessoal sem formação, gestão diluída, ausência de controle do pessoal, inexistência de pórticos electrónicos, ou de qualquer outra barreira anti-terrorista, turistas deambulando livremente no monumento, sem qualquer vigilância minimamente eficaz, desleixo completo em relação ao Castelo e aos Pegões, como se não fossem parte integrante do conjunto monumental. Face a tudo isto vem agora a senhora directora anunciar a existência de um plano estratégico, que necessita de tempo para ser implementado? Não mudaram praticamente nada no bom sentido em mais de 30 anos e agora é que vai?
Vem a seguir o ex-director Álvaro Barbosa defender a sua dama, com a ladaínha técnica já habitual sobre a degradação do calcáreo de má qualidade, atacado pelos líquenes e com uma explicação algo infantil sobre a sua passagem de professor do ensino básico para o Convento de Cristo. Ó Álvaro! Tem lá paciência, mas tu sabes muito bem que eu sei que as coisas não foram bem como tu contas.
Em resumo, dois responsáveis principais pelas maleitas do Convento de Cristo, acossados pelo alarido resultante do Sexta às 9, tentam defender o seu ganha-pão, procurando sacudir a água do capote. É humano.
Acontece todavia que, ao ouvi-los ou lê-los, se fica com a impressão que no fim de contas foi tudo obra de velhacos, que apenas lhes querem roubar os lugares. Incluindo os autores do Sexta às 9, o que é ridículo. Vêm então à memória os versos bem conhecidos do Aleixo.

Este para qualificar o que dizem, após o escândalo de âmbito nacional:

Prá mentira ser segura
E atingir profundidade
Deve trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade

E este (adaptado) em que o escriba estas linhas é o narrador:

Sei que pareço aldrabão
Mas há muitos que eu conheço
Que não parecendo o que são
São aquilo que eu pareço 

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